House 1+1=1

Arquitectura - João Laranja Queirós
Colaboração - Ricardo Gonçalves, João Barbosa
Estruturas - Tiago Carneiro (Engº)
Águas, isolamento térmico e acústico - Margarida Teixeira Martins (Engª)
Energia eléctrica - Rui Amorim Aragão (Engº)
Electricidade, radiodifusão, televisão e telefones - Rui Amorim Aragão (Engº)
Gás - João Paiva Costa (Engº)

Empreiteiro geral de estruturas - Soares & Grego, Lda.
Empreiteiro geral de acabamentos - Editecpal Engenharia e Construção, Lda.
Director técnico da obra - Eng.º Sérgio Almeida
Fiscalização - Eng.º Tiago da Silva Sá e Eng.º Tiago Moreira Carneiro

Fotografia - João Laranja Queirós

 
Quando confrontados com a oportunidade de fazer este projecto, uma habitação unifamiliar no Lugar da Pedra Alta, em Vila Nova de Gaia as nossas preocupações passaram por explorar um objecto arquitectónico, que obedecesse aos limites do lote 14 X 7 metros, ao programa exigido e que fossem exploradas questões arquitectónicas que consideramos serem fundamentais em arquitectura .

A interpretação do mundo através do reconhecimento de estruturas geométricas abstractas, foi no passado assim como no presente, objecto de estudo e uma espécie de entendimento da própria beleza do mundo.

Desde as formas mais simples às mais complexas, quer sejam simétricas ou equilibradas, a composição de uma boa forma parece estar inerente a um conjunto de estruturas geométricas, em que as partes e o todo funcionam como um só.

Aceitando essas premissas como “leight motif” para a nossa criação, procurou-se desenvolver um objecto em que por si só teria uma geometria  tão forte e tão una que qualquer construção que se unisse a este no futuro (lote 12), nunca iria perder o poder de ser um objecto arquitectónico único (1) encostado a um elemento estranho, o outro (1). 

No desenvolvimento dessa investigação, e por razões que tiveram que ver com o dimensionamento do lote, aceitamos que o quadrado, enquanto forma pura, poderia servir de base para a composição das plantas e dos alçados, o que resultou na hierarquização dos espaços e dos vãos, que se desmultiplicam em diferentes dimensões.

Para além disso interessou-nos também a questão da “massa” enquanto elemento tridimensional gerador de espaço, ou seja, a busca de um volume susceptível de ser escavado segundo diferentes profundidades resultantes em  jogos de luz e sombra.

Está presente nesta construção a ironia quase surreal, de que a “massa” pode levitar, reflectindo leveza.


Definimos que, com base nas dimensões do lote, emergia um corpo rectangular, que se se podia dividir em dois cubos de 7x7. A configuração do terreno e a diferença de cotas patente de uma frente do terreno para outra, correspondente a 3 metros, permitiu que volume pudesse pousar um extremo na cota da rua de cima e o restante legado em aparente suspensão.

Desta feita, o programa não foge ao “tradicional”, quartos e instalações sanitárias no piso 1; entrada, área de distribuição, cozinha, instalações sanitárias e sala comum no piso 0, e sala social, instalações sanitárias, escritório e garagem no piso -1.

No sentido de reforçar a ideia de que a estrutura geométrica é parte integrante do todo, os espaços do programa foram divididos e hierarquizados em estruturas regulares. Ou seja em múltiplos ou submúltiplos do nosso quadrado de 7x7 inicial.


Uma das questões que se nos pareceu bastante interessante, reflexo de um gesto de modernidade, foi a composição dos corpos por equilibrio visual e não por simetria. Ou seja, procuramos que os alçados, apesar de sustentados numa forma regular, encontrassem o seu equilíbrio visual na composição da abertura de vãos.
Por outro lado, e levando ao extremo a noção estereotómica  do todo e das partes enquanto elemento uno, optamos pela construção dessa massa em betão branco, em betão, por que é realmente a matéria da produção arquitectónica da contemporaneidade, e branco porque é o mais próximo da pureza, e do todo.
 Para além destas questões meramente formais e ou conceptuais, o diálogo com o cliente serviu sempre de motivação para estabelecer novas  fronteiras.
 A resolução das questões que consideramos essenciais para a formalização da volumetria, passaram por pedir a alteração ao alvará de loteamento, e é neste momento, que surge o projecto do outro lote, revolucionando por completo aquelas que eram as premissas iniciais.
 
O entendimento de uma forma que não era pensada para se casar e que de repente, contornando a simetria, resulta numa dinâmica que reproduzimos com a operação de 1+1=1. Duas habitações que, não deixando de respeitar as diferenças entre clientes, tem no equilíbrio entre os dois volumes, garantidas a unidade e ao mesmo tempo a complexidade da divergência nas propriedades dos espaços.





























  
O rigor da malha que sustenta as estruturas espaciais, estende-se para além da bidimensionalidade até á tridimensionalidade, incorporando o rigor construtivo, a continuidade dos planos, a sequência dos alinhamentos e das estereotomias.


A depuração da forma final é a condicionante mais intensa, sublinhando a massa de betão branco e reduzindo as outras matérias à sua expressão menor. A preocupação de quase anular a expressão das caixilharias, trás uma leitura de bloco maciço perfurado pelos vãos. 

A continuidade garantida pela materialidade do betão branco é descontinuada quando os vãos que de dia representam sombra, á noite se iluminam invertendo as relações de forma fundo.

A luz é factor determinante na composição dos alçados, mas também na definição dos espaços interiores, por demarcar planos, pontuar momentos, garantir hierarquias, envolver matéria e ela própria se transformar em matéria.

Toda a investigação formal, no novo lote, foi no sentido de dar continuidade às premissas já estabelecidas ainda que sem torções nem grandes desvios orçamentais.





















  
Depois de, os dois projectos estarem completamente definidos, inicia-se o processo de aprovação dos projectos em 2003, obtendo-se a licença em 2006, e terminando a construção em 2009.

Como condicionante irrevogável, tivemos 270.000 euros para a construção de cada uma das habitações, sem possibilidade a desvios orçamentais. Aconteceu uma gestão de materiais, a par da simplificação de desenho, que se sustentou no princípio “less is more” absolutamente compatibilizado com conceito do projecto.
 
O custo por metro quadrado ficou abaixo dos 900 euros. Construíram-se os edifícios em dois anos, em betão branco, com pisos em soalho de riga e mármores nas casas de banho, onde a maior parte do mobiliário foi incorporado na arquitectura, com um orçamento esmagado.

O resultado final satisfaz-nos enquanto arquitectos, por ser reflexo da nossa consciência profissional, apesar de, durante o processo da construção o cliente do lote 12, ter objectado o nosso acompanhamento.