A arquitectura não se guarda numa imagem

Estava a ler um texto de Louis I. Kahn sobre a luz, e deparei-me com uma frase bem curiosa. Kahn dizia, os poetas estão a tentar escrever poemas sem palavras…. e dei comigo a pensar… 

Será que os arquitectos estão a tentar fazer o mesmo?

A arquitectura como a poesia, tem o seu próprio vocabulário, enquanto a poesia nos toca pelas palavras, que nos transportam para outros lugares, a arquitectura toca-nos pela atmosfera criada, pelos materiais, pelos cheiros, pelas texturas e como estes estão conjugados. Estas duas artes não fazem qualquer sentido sem um receptor activo, que somos todos nós. 

Vendo como a arquitectura é divulgada, a forma despreocupada como os seus autores pensam em quem vai habitar as suas obras, como teorizam sobre temas que não passam para o desenho e para a obra (quero acreditar que teorizam), procurando apenas uma imagem depurada e fria. 

Será que os arquitectos também estão á procura de fazer arquitectura sem pessoas?

As pessoas só vão desarrumar o espaço que está todo certinho…que chatice…lá se foi o alinhamento do sofá com a mesa…Será isso tão importante?

Vemos uma conferência de um arquitecto, com o objectivo de aprender algo sobre arquitectura, a criação de ambientes para o homem, conceitos espaciais, ideias desenvolvidas ou apenas pensamentos. Apenas assistimos a uma propaganda publicitária, vendedores de “coisas”, podemos chamar arquitectura? 

Entramos por aqui…temos duas salas...vamos por ali…temos os quartos…

Será que os arquitectos também estão á procura de fazer arquitectura sem conceito?

Como uma poesia é mais que uma simples conjugação de versos, a arquitectura é mais do que uma planta no papel, fachadas com um jogo de saliências e reentrâncias equilibrado, um conjunto proporcionado e alinhado. 

Quando projectamos uma casa ou museu, dizemos que o projecto vai ter duas, cinco ou sete salas….? ou que ela terá a qualidade, de ser um lugar de inspiração para o Homem? Um lugar para alguém falar e sentir vontade de conversar? 

                                                                                                João Pedro Barbosa